sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Prendas sem coração

SEM

Quando a obrigação não atrapalha a devoção, tomamos nas mãos o nosso coração e no pensamento o carinho que temos por alguém.
Munidos dessas duas armas percorremos lojas, vemos preços, vemos feitios, vemos pormenores... antecipamos sorrisos e brilhos nos olhares de quem vai receber.
O papel tem motivos de carinho e o laço tem brilho de amor.
Nesse embrulho vai também o coração de quem dá.
E quem recebe, recebe também a certeza de que esteve no pensamento desse alguém... a certeza de que foi lembrado.

Dinheiro... dinheiro é prenda sem coração.
Dinheiro só tem coração quando é esmola ou para ajudar quem precisa.

Quando casei ganhei prendas em dinheiro. Com elas viajei, mobilei a casa... soube bem para começar a vida.
Hoje recordo os sítios onde estivemos mas não recordo “quem nos levou” lá. Ao limpar o pó dos móveis não recordo quem nos “ofereceu”. Foi a união que fez a força e assim conseguimos algo maior.

Os que não contribuíram para o “bolo” levaram embrulhos com laços.
Hoje eu subo a escada, vejo o jarrão e lembro-me da Maria... venho até ao hall, vejo o pote e lembro-me do Manel... abro o armário, vejo a torteira limonges e lembro a Isabel... olho a colcha branca e lembro a Rosa...

Mas nenhum dos meus filhos ainda tem idade para casar.
Nenhum deles ainda tem necessidade de se auto sustentar.
Porquê então?
Porque pensarão que eles precisam desse material sem laços nem carinho? E ainda por cima no Natal que é tempo de amor e bons sentimentos?

Família é amor, é dádiva, é transmissão de valores.
Como posso eu tentar transmitir os meus valores sem ser ofensivo para ninguém?
Como dizer que quero educar os meus filhos com base no carinho e no reconhecimento dos bons gestos?

Dá-me uma flor escolhida por ti a pensar em mim... não me dês o dinheiro para eu própria a comprar a pensar em mim.