terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Cheguei a casa com o meu menino. Ele já tinha jantado. Eu não.
O pouco gosto que tenho por sentar-me à mesa sem companhia venceu os sinais que o meu estômago começava a dar e decidi esperar pelo papá que viria jantar umas três horitas mais tarde.
O menino quis umas sopinhas de leite antes de ir para a caminha.
Enquanto ele comia eu ia passando os meus dedos pelos seus caracóis, dantes tão enroladinhos e agora cada vez mais largos.
O meu alarme da fome disparou mais sonante.
Olhei para o frigorífico.
E se isto me acontecesse sem eu ter ali uma panela de sopa e uma taça de carne assada?
E se isto me acontecesse sem eu ter ali pão?
E se isto me acontecesse sem eu ter ali fruta?
E se isto me acontecesse sem eu ter ali ainda uma parte dos bolos do Natal?
E se isto me acontecesse sem eu ter comida em casa?

E se isto me acontecesse sem o meu filho ter já jantado e sem ter pão nem leite nem nada que lhe matasse a fome?
Isso sim, seria desesperadamente doloroso.
E há quem viva assim.
Há.
Pois há.
Será que há?
Será que ainda há?
Será que já há?
Assim mesmo, no limite em Portugal?
Ái! Faz doer só de imaginar.