sábado, 23 de agosto de 2008

Uma crise sem nome

Tenho andado afastada daqui.
Estou bem mas... não tenho nada para dizer.
Devo estar a passar por uma qualquer crise desconhecida ou sem nome.
Acho tarde para ser a crise da adolescência.
Acho cedo para ser a crise da meia-idade.
Ando numa fase que só duas coisas me dão interesse: fazer ponto cruz e jardinar.
Cortar ramos, apanhar folhar, mudar plantas, mexer na terra.
Hoje não vou querer saber de limpar pó, aspirar, arrumar... que se lixe!
Hoje vou fuçar no exterior. Vou “renovar” as plantas, vou ser feliz de tesoura na mão por umas boas horas.
Tenho 120 plantas em vaso, mas não tenho máquina fotográfica digital, não gosto, não quero.
Mas se tivesse as minhas plantinhas estariam aqui.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O fogão – aliado indispensavel, inimigo mortal

Quase nada me atormenta ao ponto de querer deixar decidido o que devem fazer comigo quando eu deixar este mundo.
A roupa a vestir, a côr das flores... tudo isso são pormenores que apenas confortam (ou desconfortam), quem cá fica.
Apenas uma coisa me arrepia quando penso em cremação, da qual eu não conheço rigorosamente nada apesar de estar tão em “moda” – as chamas no cabelo.

Bifinhos de peru com molho de cogumelos acompanhado de ervilhinhas do quintal – almocinho saboroso, rápido e fácil.
Tacho arrufado.
Chama apagada.
Gás a sair sem ser queimado.
Automaticamente acendo o isqueiro.
Uma nuvem de chama espalha-se na minha frente.
Apesar do calor do dia tinha enfiado a primeira blusa que me apareceu à frente – com manga a três quartos – talvez os adultos também tenham um anjinho da guarda.
Senti uma onda quentinha envolver-me as pernas, o peito.
Um cheiro a musgado.
Vi o rasto de chama dirigindo-se a uma pinga de gordura caída na bancada – felizmente era pequena.
Soltei um grito.

"Alguém" veio ver o que se passava.
O gáz espalhado não tinha sido muito... por isso não viu nada.
"Cheira lá a minha cabeça".
Não notou o cheiro a musgado.
Viu que o almoço estava bem encaminhado e foi embora tranquilo sem qualquer comentário ou atenção.

E foi aqui que o meu mundo desabou e as lágrimas jorraram.
Soube tão bem o "abraço" da fresquinha parede de azulejos brancos á qual me encostei tapando o rosto com as mãos.
O que verdadeiramente me assustou foi o pouco caso.
Seria preciso eu arder inteira ao ponto de não conseguir aprontar o almoço para que alguém ao menos me perguntasse o que se tinha passado?

Podia não se notar mas eu precisava de um abraço.
Não tenho mãos peludas mas... os microscópicos pelinhos louros tinham a pontinha preta e enrolada.

Chorei com soluços.

Tomei banho de chuveiro.

Chorei.

Não almocei.

Chorei.

Á noite...
foi difícil adormecer.